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  • Foto do escritorAndreia Lopes

Um dia, pinto-lhe a moto de rosa choque.



Os homens não têm maturidade. A esmagadora maioria padece da síndrome do Peter Pan. Podem ser uns companheirões. Amantes irresistíveis. Excelentes pais, mas há algures naquele sistema nervoso central um desvio que equipara a sua maturidade a um cão adulto. Passo a explicar: o meu cão adora estar na chaise longue com aquele ar de gato que se está nas tintas para tudo e todos, mas basta ouvir uma bola de ténis ou deparar-se com umas meias chulézentas que baixa nele o mais afoito dos cachorros. Com os homens ocorre o mesmo fenómeno. Alguns enquanto vêm futebol. Outros a jogarem cartas. Com carros...com motos...

Conduzo moto desde os 14 anos. Aprendi a andar de moto sozinha. Quando era adolescente tudo o que queria era andar de moto e quanto mais rápido, melhor.

Actualmente, quase a entrar na meia idade e com três criancinhas para alimentar ocorre-me que talvez não seja imortal. Que as pessoas morrem e que todos pensamos o mesmo, que "só acontece aos outros", vai daí, não me apetece muito facilitar num processo de auto-aniquilamento da minha pessoa.

O meu marido, que quando não é uma besta de leste, é um gajo romântico e atencioso desafiou-me a acompanhá-lo no passeio matinal de Domingo, de moto. Aquele passeio que ele adora exibir ao almoço com vídeos a 300 quilómetros horários. Iríamos ao Porto, contemplar o Douro e os seus socalcos, tirar umas chapas giras para exibir a nossa felicidade na cara dos inimigos, beber um moscatel, passear na marginal como nos filmes enquanto ouvimos Bryan Adams. E eu, claro, derreti-me.

- Eu vou, mas sabes que comigo tens que ir devagar. Vamos para descontrair, não é nenhuma corrida - disse-lhe eu.

- Claro que sim amor - respondeu.

Ainda não tínhamos feito 5 quilómetros e já eu tinha vontade de lhe apertar o pescoço. Mas, depois pensei que a 200km/h era capaz de não ser boa ideia. Resignei-me com orações de arrependimento. "Filho da mãe, enganou-me outra vez. Otária do caralho cais sempre na mesma conversa. Quando pararmos no posto de Ceide fico lá e chamo um táxi. Volto para casa em quatro rodas e nunca mais lhe falo. Quando lhe apanhar a moto na garagem pinto-a de rosa choque".

Mas, piorou e até ao Cais de Gaia, diz ele, que só (leram bem, SÓ), demos 260 km/h. Acredito que teremos chegado aos 299 porque foi quando me senti uma peninha largada ao vento com o capacete a esmagar-me o rosto ao ponto de ter de respirar pela boca.

Para mal dos meus pecados, ainda nos cruzamos com outra moto que também levava pendura e com um porshe. É escusado dizer o que aconteceu. Lembram-se do cão quando vê as meias chulézentas?


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