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Carta ao meu pai.

  • Foto do escritor: Andreia Lopes
    Andreia Lopes
  • 9 de mai. de 2019
  • 2 min de leitura


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Pai,

lembraste de mim em criança? Tinha o cabelo cor de boi (como os meus tios) e usava umas sapatilhas gastas de andar por casa por cima de umas meias brancas com riscas que viraram trending. Trepava aos móveis para ir buscar as bolas que a minha mãe teimava em esconder em sítios que nunca foram suficientemente altos para mim. Corria para a rua com a bola debaixo do braço.

Pai, lembraste que fazia cabanas e me escondia dos ralhetes entre as rochas do monte por trás de nossa casa?

Lembraste da primeira bicicleta que te pedi? Era Domingo quando a compramos. Era colorida e tinha rodinhas. Haverias de me comprar outra de montanha que aprendi a andar sozinha, com menos de seis anos. Mal chegava aos pedais. Subi-a ao muro para subir para a bicicleta. Tentei. Uma e outra vez. Consegui. Rapidamente me viste descer a ribanceira de casa praticamente sem travar.

E o skate? Lembraste pai? Também aprendi a nadar sozinha. E andar de mota. E de carro. Sempre confiaste em mim. E com as devidas reservas até te orgulhavas da maria-rapaz que se entretinha a apanhar as rãs do rio.

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Pai, não sei onde anda essa miúda de cabelo cor de boi e coragem nos olhos. Levaste-a pela mão quando foste embora.

Já não subo a muros, nem desço ribanceiras. Qualquer lugar é demasiado alto para mim. As patas das rãs far-me-iam impressão. Tenho medo. Já não tenho coragem nos olhos.

Talvez, a culpa até seja tua, que desapareceste. Nunca mais me pude aninhar em ninguém. Perdi os braços que me levaram pela mão. Perdi os olhos azuis de orgulho que me viram sempre menina.

Pai, lembraste quando te escrevia? E te lia enquanto desfazias a barba...

 
 
 

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